No
final de 2014, no dia 17 de dezembro, Barack Obama e Raúl Castro fizeram,
simultaneamente, discursos históricos, nos quais anunciavam uma
reaproximação das relações diplomáticas entre os dois países desde 1961, quando os Estados
Unidos fecharam a embaixada americana e impuseram duros bloqueios econômicos e
comerciais após a Revolução Cubana, de 1959, e da tentativa de invasão na Baía
dos Porcos, em 1961. As negociações continuam e está previsto para breve a reabertura
da embaixada americana na Ilha, a retirada de Cuba da lista de “países que
promovem o terrorismo”, bem como o fim do embargo comercial. Simbolicamente, o
ato representou, na teoria, o fim do resquício da Guerra Fria no continente
americano.
Na
prática, grande parte da sociedade brasileira parece ainda viver em meio às
tensões da Guerra Fria. Desde Lula (2003), o Governo brasileiro tem adotado uma
postura de integração da América Latina, que passa pela inclusão de Cuba, tanto
em termos diplomáticos e políticos, quanto em níveis econômicos e comerciais. Com
Dilma, essa relação bilateral se aprofundou com acordos importantes para os
dois países. Um exemplo icônico é a construção do tão falado
Porto de Mariel, por
empresas brasileiras financiadas pelo BNDES. A oposição e a parcela reacionária
da sociedade brasileira diziam que o Governo brasileiro estava dando bilhões de
dólares à ditadura comunista cubana. A reaproximação de Cuba com os Estados
Unidos, significando provavelmente também um aumento nas transações comerciais,
prova que foi uma estratégia acertada investir em potencial centro logístico no
Caribe. Já o Programa Mais Médicos, através de uma cooperação técnica entre o
Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde, procura aliviar a degradada
saúde pública brasileira, sobretudo nas pequenas cidades do interior que não
dispõem de médicos, importando com profissionais de seus países membros. A
maioria dos médicos que foram contratados é cubana. A oposição, depois de criticar
bastante, teve de se calar diante do sucesso do número de brasileiros contemplados
e atendidos pelo serviço dos médicos cubanos: 74% dos brasileiros
aprovavam o
Programa, ainda em 2013.
Agora,
aproveitando-se claramente da fragilidade política do início do segundo mandato
de Dilma Rousseff e com o Congresso em rota de colisão com Planalto, a oposição,
encabeçada por Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Aloysio Nunes (PSDB-SP), prepara
um
novo avanço contra o Programa Mais Médicos, acusando ser um “um acordo bilateral realizado entre o
governo brasileiro e o de Cuba com o objetivo de transferir dinheiro à ditadura
cubana”, no intuito de proibir a contratação de cubanos pelo Programa. A
acusação é rasa, leviana, para não falar xenófoba, como se esses cubanos não
estivessem prestando serviços de saúde à comunidade onde estão localizados –
serviço, inclusive, que médicos brasileiros se negam continuamente a prestar.
Esse
próximo ataque da direita brasileira alinha-se com um espírito surreal de uma
parte da sociedade brasileira que ainda vê iminente um “golpe comunista” no
Brasil, comandado pela “ditadura comunista bolivariana petista”, pois “O Brasil
não pode virar uma Nova Cuba”. Movimentos como esse fazem que, no Brasil, ainda
aja um resquício bastante enraizado da Guerra Fria – apresentando seu aspecto ainda
mais ignorante e burro. Quem sabe a União Soviética ainda esteja financiando
tudo isso, como falou um eleitor do Aécio já bastante famoso pelas redes
sociais.